quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Deolinda: "que parva que eu sou" - uma resposta a um post num blog...

Acabei de ler um texto no blog Jonasnuts através de um link cedido por uma amiga via facebook.

É interessante e sempre mais um ponto de vista. No entanto gostaria de deixar algumas notas numa escrita que é a de quem está a escrever conforme pensa e cuja estrutura e frases poderão parecer um pouco misturadas.

O marceneiro optimo aqui da zona tem efectivamente mt trabalho, mas tem tb a oficina cheia de 'tralha' que lhe deixam e nunca a vão levantar por não terem como pagar por vezes uns miseros centimos, e de miseros centimenos em miseros centimos ate este bom marceneiro está em riscos de não saber o que fazer à vida, quer por nao receber dos clientes quer por nao ter espaço na oficina para receber novos trabalhos (uma história real).

No entanto, brilhantes electricistas, ladrilhadores, informáticos, ou outros quaisquer oficios têm forçosamente que entrar em empresas e companhias que lhes pagam o salário minimo nacional para trabalharem 10h, 12h, 14h, por vezes sem irem a casa ver a familia, tendo de seguir o protocolos pré-aprovados e designados de resolução imediata do problema com relatório de satisfação imediata, porque afinal essa empresa apresentou preços tao competitivos no mercado e de deslocação que eles não tinham condição para competir - mas afinal resolução imediata e preço baixo é o que cada vez mais exigimos, mas não esquecendo a qualidade... (mais umas historias reais aqui).

Também os há que estudam e até poderão ser brilhantes nas suas areas de formação, no entanto, por sobrequalificação, interesses sociais (mais comummente conhecida por 'cunha' ou tb filiações), ou outros, são renegados a vida inteira para trabalhos de sobrevivência independentemente de todas as tentativas que façam para procurar o que sempre sonharam. Ou então conseguem finalmente uma situação dentro do que gostam e sabem fazer mas têm de mudar de local e de vida para longe daqueles que são importantes, sacrificam alguns anos e depois, por um simples estalar de dedos, lhes é retirado tudo em detrimento de outrem que afinal é o filho do amigo de familia, que voltou agora dos confins, que nada sabe 'da casa' mas lhe têm de dar uma oportunidade. (mais histórias reais)

Sim, houve uma idolatrização do canudo, o qual progrediu para uma continuação da depencia de bolsas para segui mestrados pós-bolonha e doutoramentos tirados a ferro para garantir algum lá em casa, isto para evitar ir para estagios que remuneram 150,00€ e quase nem o transporte mensal pagam e tens de dar horas a mais ao empregador, fazer tudo e calar. Tambem os há que saltam de estágio não remunerado em estagio não remunerado porque o empregador 'exige' anos de experiência que de outra forma não obtem, ou entao passa de estagio em estagio pois o centro assim o permite ao abrigo de programas que permitem às empresas ter empregados entre 3 meses a um ano gastando por 3 ou mais estagiarios o que pagaria por um elemento efectivamente conhecedor do seu trabalho. Agora vem o regime de voluntariado, agora tornado visivel nas redes sociais, e que poderá rapidamente passar a ser para algumas entidades mais uma forma de fazer trabalho sem gastar dinheiro mas usando o tempo dos outros com a pressao que a rede social irá fazer para que sejamos voluntarios e quanto mais melhor... (mais algumas historias reais)

Sim, é triste observar que quem estuda por gosto habitualmente o faz em horario pos-laboral e com imensos sacrifiios, e que quem tem o tempo todo livre para o fazer, ainda se queixa dos deadlines, escolhem temas pouco interessantes, fazem de tudo para entregar trabalhos com o minimo esforço, copiam em testes ou estudam em 24h... (tb algumas historias reais)

Sim, tb os há que vão contra esta onda e lutam dia a dia contra a incerteza do dia a seguir, que vão trabalhar com febre para não terem menos uns “miseros euros” ao fim do mes no salario pois isso é essencial para ter um tecto e comida na mesa para a familia e é a diferença entre semanas a arroz e atum ou ter algo um pouco mais substancial.

Sim, tb os há que mesmo jovens lutem para estarem a trabalhar em empregos psicologicamente desgastantes para poderem pagar aquele curso que gostam e preferem não pesar no bolso dos pais ou contar com o fundo de desemprego ao fim do mês.

Sim, tambem os há que calados dão os ultimos centimos na carteira para que os filhos possam ter o minimo quando eles não comem ao almoço para poderem poupar.

Sim, também os há que são forçados a fazer turnos e mais turnos, a ter responsabilidades dobradas, a ter de trabalhar horas a fio depois do expediente, tudo por responsabilidade para com o serviço ou por imposição do empregador, mas sem que o esforço tenha qualquer tipod e revertimento financeiro minimo que permita manter a motivação e o querer lutar pela camisola.

Sim, tb os há que não sabem para onde se virar por o banco não contribuir com soluções viáveis excepto a poder de dinheiro, e muito, para ajudar a que ‘casais’ possam decidir a sua vida ao invés de terem de se ‘suportar’ potenciando situações de ‘violência doméstica’ (independentemente do género).

Temos de tudo, feliz ou infelizmente, e penso que todas as posições e opiniões que possam ser relatadas têm fundamento. Aqui deixo apenas um desabafo pessoal relatando uma pontinha do que eu vejo à minha volta e que não acontece a um, nem dois, nem três... mas recorrentemente. Sinto-me impotente face a tanta coisa.... mas não, não pensem que fico quieta a olhar. Como todos tento fazer o que posso pelos que posso

Quanto aos Deolinda, "que parva que eu sou" leio mesmo de forma irónica pois não considero que o sejamos de todo. Somos sobreviventes e... cara alegre porque senão ninguem nos quer (quem me conheçe percebe o que quero dizer).

PS - para o caso de surgir a dúvida, todas as histórias que aqui relatei são reais e de conhecimento pessoal, não com base no sei de alguem que sabe.

2 comentários:

Marina Pereira disse...

http://www.joao-oliveira.net/?p=1312

Z. disse...

Talvez que os Deolinda (e note-se que não conheço o tema) se tenham inspirado no acrónimo debitado pelo personagem de Michael Douglas no mais recente "Wall Street", quando fala de uma "Ninja Generation" (No Income, No Job Available). Lá como cá...