José Saramago: Ensaio sobre o Twitter
Entrevistado pelo O Globo no passado domingo, o nobel da literaturaJosé Saramago opinou sobre o Twittercomo realidade da comunicação actual. Afirmou:
“Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.”
ParafraseandoRicardo Araújo Pereira num brilhante sketch, “concordo com a primeira parte, discordo da segunda parte. Tenho dúvidas em relação a três vírgulas e sou contra o ponto de final”.
Falando mais a sério, não é expectável queJosé Saramago, que teve uma relação de décadas com a máquina de escrever enquanto jornalista e romancista, se converta a meios de comunicação em rede. O seu desenvolvimento enquanto ser social, não é o mesmo da geração “móvel” que cresceu com generalização do computador e telemóvel. A informação disponibilizada em rádio, TV, extensos jornais e livros não acompanha a necessidade do consumidor actual, mas é o cenário satisfatório para quem viveu boa parte da vida nesse contexto.
Nos “tempos modernos”, não é só modelo de leitor que se altera, é o próprio agente da notícia. Por exemplo, na terça-feira Lance Armstrongutilizou o Twitter para responder a “provocações” de Alberto Contador, ambos da equipa de ciclismo Astana. A notícia nasce cada vez mais na Internet e em linhas sucintas.
O tráfego de dados aumentou dez vezes nos últimos dois anos. Frente ao computador, os jovens passam tanto ou mais tempo, como a anterior geração frente à TV, e as ascendentes em redor da rádio e a esfolhear um livro. Alguns “velhos lobos” da informação percebem isto e, mesmo não acreditando 100% no meio, não deixam de marcar presença. Veja-seLarry King, que todos os dias tem algo a dizer (de trabalho) aos mais de 850 mil seguidores. Outros senhores espectáculo, comoDavid Letterman, não entendem – ou fazem que não querem entender - o poder de influência que a informação concisa pode ter.
Na elegia a Walter Cronkite que escreveu no passado sábado noPúblico,Eduardo Cintra Torres referiu que o jornalista americano trabalhava o texto das notícias de forma a terem não 15, mas 10 segundos. O objectivo era poder incluir mais informação no formato telejornal a que dava voz. Como vemos, o tema “concisão” não é novo e foi preocupação de um dos mais elogiados profissionais da informação.
Se caminhamos para o grunhido não sei, mas parece-me claro que a concisão, o dizer mais com menos caracteres são exigências do nosso tempo. Hoje temos mais informação disponível e cabe a um torná-la conhecimento.
(Crédito da foto de Saramago: Wikimedia Commons. Fonte do texto: http://twitterportugal.com/blog/jose-saramago-ensaio-sobre-o-twitter/ )
Um comentário:
Ele ainda não deve ter percebido todas as potencialidades desta nova realidade, e convenhamos que tal também já não lhe será fácil de vir a acontecer. Ele é um homem das antigas máquinas de escrever e afins, de um mundo muito dispar em relação ao actual. Admiro-o imenso como escritor e é um dos meus predilectos, mas não posse nem tenho de concordar com tudo o que ele diz.
Jinhos.
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